Nelson Townes
Se protege, meu filho
É a frase mais importante do ano que finda e um aviso para o Ano Novo de 2007: “Se protege, meu filho”. As últimas palavras de Sueli Maria Lima de Souza, de 33 anos, morrendo enquanto servia de escudo ao filho Gabriel, de 6, dos tiros que bandidos disparavam na rua..
Nenhum dos discursos feitos pelas centenas de milhares de políticos eleitos ou reeleitos no Brasil todo, em 2006, consegue ser mais importante do que essa frase. Sueli resumiu todo o nosso medo, tudo o que dizemos, diariamente, aos nossos filhos, de Norte a Sul do País.
O altar em que se transforma o local onde Sueli foi imolada para proteger o Gabriel é uma cabine da PM na praia de Botafogo, metralhada por bandidos na madrugada de quinta-feira. A mulher era camelô, estava trabalhando e a criança, sem lugar mais seguro para ficar, dormia ao lado da mãe que trabalhava. Tudo isso é emblemático.
A tragédia mostra a um tempo só as alturas e as profundezas a que pode chegar a criatura humana. Mostra o fracasso da sociedade em que vivemos. E nos diz que se somos vítimas, também somos culpados pela existência dos bandidos.
A pessoa que é cruel a ponto de disparar a esmo uma metralhadora – e atingir pelas costas uma mulher que protegia uma criança – é da mesma espécie heróica e bondosa que intercepta as balas com o corpo para salvar o filho.
O local onde a mãe e seu filho se encontravam deveria ser o mais seguro, um posto da PM, mas é vulnerável exatamente por ser da Polícia Militar.
Não importa os motivos dos distúrbios no Rio. Os criminosos se multiplicam porque somos incapazes de eleger legisladores que tenham coragem para extinguir – a palavra é extinguir – o aparelho jurídico policial incapaz de punir e ressocializar os delinqüentes.
Pior. Sequer reconhecemos que se existem maus políticos é porque somos um mau povo – já que os políticos são nosso espelho, como lembrou recentemente o jornalista Paulo Queiroz, citando a jornalista Eliane Cantanhede (O Estado de S. Paulo).
Em vez de desdenhar dos parlamentos, do Poder Legislativo de onde vem nossa força, dignidade, justiça e segurança, devemos dizer “se proteja, meu filho” – mas, não apenas das balas dos bandidos, e sim da preguiça cívica, da omissão diante do Estado burro, perdulário e ineficaz.
“Se proteja, meu filho” – do Estado que tem Três Poderes, e é incapaz de educar os cidadãos e ressocializar os criminosos, e dizer que para conter essa violência é preciso mais violência e mais cadeias..
Precisamos mudar nossa índole que faz o mundo nos ver como o país dos feriados, dos encantos naturais, da boa música, das festas e do pouco interesse no desenvolvimento tecnológico.
A alternativa é considerar o Brasil um país falido, matando crianças e mulheres numa guerra civil que um dia ainda atrairá a intervenção estrangeira.
“Se proteja, meu filho” – nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não, como diz o Belchior..
Se proteja para não ter a dor de perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
Se protege, meu filho
É a frase mais importante do ano que finda e um aviso para o Ano Novo de 2007: “Se protege, meu filho”. As últimas palavras de Sueli Maria Lima de Souza, de 33 anos, morrendo enquanto servia de escudo ao filho Gabriel, de 6, dos tiros que bandidos disparavam na rua..
Nenhum dos discursos feitos pelas centenas de milhares de políticos eleitos ou reeleitos no Brasil todo, em 2006, consegue ser mais importante do que essa frase. Sueli resumiu todo o nosso medo, tudo o que dizemos, diariamente, aos nossos filhos, de Norte a Sul do País.
O altar em que se transforma o local onde Sueli foi imolada para proteger o Gabriel é uma cabine da PM na praia de Botafogo, metralhada por bandidos na madrugada de quinta-feira. A mulher era camelô, estava trabalhando e a criança, sem lugar mais seguro para ficar, dormia ao lado da mãe que trabalhava. Tudo isso é emblemático.
A tragédia mostra a um tempo só as alturas e as profundezas a que pode chegar a criatura humana. Mostra o fracasso da sociedade em que vivemos. E nos diz que se somos vítimas, também somos culpados pela existência dos bandidos.
A pessoa que é cruel a ponto de disparar a esmo uma metralhadora – e atingir pelas costas uma mulher que protegia uma criança – é da mesma espécie heróica e bondosa que intercepta as balas com o corpo para salvar o filho.
O local onde a mãe e seu filho se encontravam deveria ser o mais seguro, um posto da PM, mas é vulnerável exatamente por ser da Polícia Militar.
Não importa os motivos dos distúrbios no Rio. Os criminosos se multiplicam porque somos incapazes de eleger legisladores que tenham coragem para extinguir – a palavra é extinguir – o aparelho jurídico policial incapaz de punir e ressocializar os delinqüentes.
Pior. Sequer reconhecemos que se existem maus políticos é porque somos um mau povo – já que os políticos são nosso espelho, como lembrou recentemente o jornalista Paulo Queiroz, citando a jornalista Eliane Cantanhede (O Estado de S. Paulo).
Em vez de desdenhar dos parlamentos, do Poder Legislativo de onde vem nossa força, dignidade, justiça e segurança, devemos dizer “se proteja, meu filho” – mas, não apenas das balas dos bandidos, e sim da preguiça cívica, da omissão diante do Estado burro, perdulário e ineficaz.
“Se proteja, meu filho” – do Estado que tem Três Poderes, e é incapaz de educar os cidadãos e ressocializar os criminosos, e dizer que para conter essa violência é preciso mais violência e mais cadeias..
Precisamos mudar nossa índole que faz o mundo nos ver como o país dos feriados, dos encantos naturais, da boa música, das festas e do pouco interesse no desenvolvimento tecnológico.
A alternativa é considerar o Brasil um país falido, matando crianças e mulheres numa guerra civil que um dia ainda atrairá a intervenção estrangeira.
“Se proteja, meu filho” – nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não, como diz o Belchior..
Se proteja para não ter a dor de perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.