Monday, October 30, 2006

Devastação apaga pistas do
homem primitivo em Rondônia

Arqueólogos brasileiros descobriram nas matas de Rondônia evidências de que o povoamento do continente americano começou na América do Sul e não na América do Norte. Esta seria a solução de um dos maiores mistérios da ciência: a origem do homem primitivo americano. Mas, a chave desse enigma está ameaçada por um novo crime ambiental: a destruição do patrimônio histórico e cultural.
Estão sendo apagadas por um novo tipo de crime ambiental em Rondônia as provas que colocarão Rondônia no centro mundial das discussões de arqueólogos, lingüistas, antropólogos físicos e sociais, biólogos e geólogos sobre a evolução da espécie humana. Desde seu surgimento, na África, entre 200 mil e 100 mil anos, e sua dispersão territorial pelo planeta com a colonização de continentes, e a adaptação a novas regiões de clima e recursos naturais variados.
As mais importantes atividades econômicas de Rondônia, a agro-pecuária, a indústria madeireira, a garimpagem, e a construção de usinas hidrelétricas, destroem os sítios arqueológicos que contém os elementos para uma reviravolta no mistério do homem primitivo americano.
Urnas funerárias com ossadas humanas, ferramentas feitas com pedra – pilões, afiadores, setas e machados – compondo “oficinas líticas”, tudo com supostamente mais de 12 mil anos de existência, além de “geoglifos” – gravuras humanas, de animais ou geométricas em rochas e no solo – tão ou mais antigos, estão sendo pisoteados pelo gado, destruídos por tratores em fazendas da região central do Estado, ou carbonizadas durante as queimadas de matas.
No distrito de Riachuelo, município de Presidente Médici, cerca de 500 quilômetros a sudeste de Porto Velho, peças que podem provar que o homem é mais antigo do que a floresta amazônica, quando não são destruídas, são recolhidas por moradores para decoração de suas casas, ou são vendidas – e reproduzidas por comerciantes locais – como “souvenirs” para viajantes.
Essa destruição foi documentada por uma expedição da Faculdade Unipec de Porto Velho e da Escola do Legislativo de Rondônia, integrada por arqueólogos, geólogos e estudantes de História e dirigida pelos professores Solano Low Lopes e Josuel Ângelo Ravani.
Outras testemunhas dos crimes ambientais contra o parimônio cultural de Rondônia relatam que em grutas do município de Pimenta Bueno, também na região central de Rondônia, foram feitas pixações sobre pinturas rupestres (pré-históricas).
Um antigo secretário da Cultura de Rondônia relatou que viu garimpeiros do rio Madeira jogando futebol com um crânio pré-histórico encontrado quando procuravam ouro.
O problema é que até agora nenhum dos sítios arqueológicos já descobertos em Rondônia foi oficialmente catalogado por qualquer instância governamental.
Desrespeita-se integralmente a legislação que determina que, além de licença ambiental para iniciar qualquer obra, todo empreendimento que intervenha no meio ambiente (abertura de pasto, de estradas, campo de pouso, construção de hidrelétricas etc.) deve fazer, entre outros, um estudo de impacto patrimonial. É o que os especialistas definem como “avaliação do risco de impacto que o sítio arqueológico poderá sofrer durante ou depois das obras”.
Eles explicam que para haver esta avaliação é preciso, antes de tudo, localizar o sítio, observar suas características, grau de preservação e sua importância histórica regional. Todos os arqueólogos e historiadores ouvidos pelo repórter em Porto Velho, nesta semana, disseram duvidar que alguma autoridade governamental tenha interesse em solucionar esse problema.
“Pelo contrário, dirão que preservação histórica é prejuízo e obstáculo ao progresso” – disse um pesquisador.
Em Rondônia, com a exceção dos salvamentos arqueológicos feitos pela Eletrobrás/ Eletronorte antes da formação da barragem de Samuel e de projeto semelhante nas discussões sobre as usinas de Furnas, desconhece-se que alguma outra instituição pública ou privada tenha feito avaliação de impacto ambiental patrimonial em todo o Estado..
No entanto, “a chave do enigma do povoamento das Américas pode estar nos vestígios dos primeiros seres humanos que habitaram a atual região de Rondônia, nas oficinas líticas (de pedra) e obras de arte feitas na pedra e na terra encontrados nos sítios arqueológicos espalhados por todo o Estado” – como diz a arqueóloga Maria Lúcia Pardi, da Gerência de Arqueologia do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), vinculado ao Ministério da Cultura.
Maria Lúcia acredita que estão em Rondônia vestígios mais antigos das Três Américas e isso confirmará a tese de que a corrente migratória que povoou o Norte partiu daqui. Mas, por falta de verbas públicas e interesse governamental para pesquisa arqueológica e ante a inexistência de uma política de preservação do patrimônio histórico e cultural, nenhum dos vestígios humanos encontrados em Rondônia foi submetido ao teste de radiação com carbono 14 para 0confirmar cientificamente a idade presumida pelos arqueólogos.
A datação com base na radiação do carbono 14 é a única certidão de nascimento sobre os seres vivos, humanos ou não da pré-histórica aceito pela comunidade internacional. Consiste em medir a proporção entre dois tipos diferentes de carbono acumulados nos seres vivos --o carbono-12 e seu primo radioativo, o carbono-14.
O carbono-14 está presente na atmosfera e é absorvido pelos seres vivos até a data em que morrem. Após a morte, o volume carbono-14 absorvido diminui, ou se transforma em outro elemento (no caso, nitrogênio). Sabendo-se que a cada 5.700 anos a quantidade de carbono-14 cai pela metade, é possível medir a idade contando a quantidade do elemento radioativo que sobrou na amostra de material orgânico.Existem muitas teorias sobre a origem do homem primitivo americano. Até que a presumida existência do “Homem de Rondônia” seja oficialmente confirmada, prevalece a tese de que o ser humano entrou no continente procedente da Ásia, atravessando uma “ponte” de gelo que existia onde hoje é o Estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca, há pouco mais de 9 mil anos.
Essa era a idade, até 1975, do fóssil humano mais velho da América do Norte. Seria membro de uma civilização avançada procedente da Ásia.
A teoria sofreu um grande abalo quando, naquele ano, foi desenterrado o crânio de uma mulher no Brasil, em Minas Gerais, na Lapa Vermelha, nos arredores de Belo Horizonte, com cerca de 12 mil anos. Apelidada de Luzia, era considerada o mais antigo fóssil humano encontrado no continente. A reconstituição computadorizada de sua face de mostrou que ela tinha traços negróides, fazendo os estudiosos suporem que o povoamento começou no Brasil, por africanos que atravessaram o Atlântico.
Os norte-americanos, porém, nunca aceitaram a mineira Luzia como o ser humano mais antigo das Américas. Dizem que o título é de uma mulher, cujo crânio foi encontrado há cerca de cem anos na Cidade do México, mas somente em 2002 foi datado e divulgado. É a Mulher de Peñon 3, com 12.700 anos.
Porém Luzia com 13.155 anos, continua sendo a mais antiga - e outros crânios encontrados no mesmo sítio onde Luzia foi descoberta, em MG, podem ser velhos do que o mexicano - e vários vestígios humanos encontradas em Rondônia são presumidamente mais antigos ainda.
Os norte-americanos sustentam ainda que o povoamento além de ter começado na América do Norte foi feito por povos asiáticos evoluídos. Segundo se divulgou, o estudo das características dos ossos do crânio descoberto no México sugere que ela descende de um povo que viveu onde atualmente onde é o Japão e que teria alcançado o continente pelas ilhas do Pacífico.
Os historiadores norte-americanos estão equivocados quanto à qualidade de seu povoamento, afirma uma arqueóloga que defende a origem do americano no Brasil.
Ela lembra que o mar esteve, durante certas épocas do último glacial, até 150m abaixo do nível atual. Assim sendo havia muito mais ilhas entre os continentes e a passagem da África para o litoral nordeste do Brasil e para o Caribe não representava grandes problemas.
Homo sapiens já existia na África há 190.000 anos, por isso é normal que possa ter chegado até as costas americanas antes de 100.000 anos atrás.
“Considerando o número de sítios aqui na região, a qualidade das pinturas rupestres, a tecnologia avançada desses povos que aqui viveram há 100.000 anos até a chegada dos brancos, podemos pensar em uma comparação com a arte rupestre dos EUA e Canadá: pobre, reduzida.”
“Depois podemos analisar a técnica arquitetural dos índios da Amazônia que faziam ocas fantásticas, obras primas de engenharia, com luz zenital, teto altíssimo, frescas e agradáveis.”“Geoglifos” – gravuras em pedra – descobertos no Distrito de Riachuelo, em Presidente Médici, em Rondônia, só podem ter sido feito por humanos com cultura mais sofisticada. Há indícios também de que as terras rondonienses faziam parte de uma das mais extraordinárias civilizações da antiguidade, o Império Inca, ou Tawantinsuyu.
Os Incas, que foram destruídos pelos conquistadores espanhóis, reinaram durante 300 anos sobre uma região com mais de dois milhões de quilômetros quadrados – e que poderiam abranger Rondônia. De acordo ao menos com um texto-khipu (a forma que os Incas usavam para o registro de eventos importantes), durante o reinado de Topa Inca Yupanqui (?1470-1493?), sucessor de Pachacuti, aconteceu a conquista de Paucarmayo, área situada nas terras baixas do oriente incaico. Mapas do Século XVI, indicam que Paucarmayo seria o atual rio Madeira, que banha Porto Velho.
Ainda não há provas suficientes para afirmar que os Incas ocuparam terras hoje pertencentes ao Brasil, mas vestígios estão sendo encontrados. Geólogos do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) descobriram muros de pedra nos altos de uma serra, em Rondônia, com vista para o Rio Madeira.
A região é conhecida como Serra da Muralha. As informações prestadas pelos geólogos foram confirmadas por arqueólogos. Os últimos são os profissionais habilitados a responder a questão da origem cultural dos muros de pedra do rio Madeira.
Estes muros provariam a conquista de Paucarmayo e representariam vestígios de uma fortaleza inca. Escavações na fortaleza de Las Piedras, em Riberalta, separada do Brasiol apenas pela linha imaginária da fronteira política, revelaram a ocorrência de cerâmica Inca. Foi descrito que entre a cerâmica encontrada “destaca-se um vaso característico para cerimônias tipo keru. Keru é o vaso sagrado Inca, símbolo da força magnética e sexual da mulher.
Em Las Piedras foram encontrados outros vasos, similares daqueles provenientes de escavações em templos, cemitérios ou aldeias de cultura Inca.”
A presença da civilização inca no Brasil pode ser outra descoberta arqueológica a colocar Rondônia no topo do mundo. Isso mostra quanto é a grave o novo tipo de crime ambiental em Rondônia.
O modelo que tenta explicar o povoamento americano também foi construído com base em dados biológicos, antropológicos, genéticos e até lingüísticos. “O ponto-chave inicial era a existência de uma grande diversidade morfológica”. Em Rondônia estão sendo estudadas a origem de dez línguas diferentes.

1 Comments:

Blogger Joaquim Cunha da Silva said...

Localizei no Municipio de Alta Floresta Geoglifos de Tematica inca

Divulgue para proteger

http://eldorado-paititi.blogspot.com/

8:35 AM  

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