Tuesday, May 09, 2006

Corrigindo erros na história
da imprensa em Rondônia


Nelson Townes

Caro professor,

Por amizade ao senhor e respeito pela instituição palco de sua recente explanação sobre a história da imprensa em Rondônia não direi seu nome, nem do local. Sinto-me obrigado, porém, em nome da verdade histórica, a apontar equívocos, distorções e omissões que o senhor desafortunadamente cometeu.
Espero que os acadêmicos que o ouviram leiam este artigo, para que não transformem os erros que ouviram em novas distorções de nossa história tão freqüentemente deturpada.
O senhor começa sua explanação pelo ano de 1891, apontando como primeiro jornal a circular na região o "Jornal Humaitaense", editado em Humaitá (hoje Amazonas), considerando que na época a área do município de Humaitá se estendia até a região da Cachoeira do Santo Antônio - e onde existia o povoado de Santo Antonio do Rio Madeira.
Mesmo admitindo que o Jornal Humaitaense tenha circulado em Santo Antonio, não creio que um jornal editado numa cidade distante desse povoado possa ser inserido na história da imprensa em Rondônia - ou melhor, Porto Velho, que nascia enquanto Santo Antonio se extinguia.
Considero o jornal "The Porto Velho Times", impresso aqui, e que começou a circular em 1909, com a data de fato grafada errado - 04.07.1609 - como o primeiro dos nossos jornais e um dos documentos de nascimento de Porto Velho.
O jornal era inaugurado na data do segundo aniversário da cidade,
e como o senhor bem lembrou, era editado em inglês, língua falada pela maioria dos habitantes da cidade-acampamento dos norte-americanos que construíam a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Adiante o senhor fala que em 1947 o governador Joaquim Vicente Rondon cria o Jornal "O Guaporé" e diz que ele funciona até 1948. A menos que tenha sido publicado um segundo jornal com o mesmo nome, "O Guaporé" em que trabalhei em 1969, sob a direção de Emmanuel Pontes Pinto, parou de circular em meados da década de 90.
Outro equívoco seu se relaciona com a criação da TV Educativa de Rondônia, canal 11, que tinha estúdio improvisado e transmissor no salão nobre do Palácio Presidente Vargas. Ela não funcionava em 1970, mas em 1974.
Era apenas um transmissor com um vídeo-tape para transmitir - com um dia de atraso - os jogos do Brasil na Copa do Mundo de 74. Era para entrar no ar apenas durante os 90 minutos do jogo.
Então eu, Dimas Queiroz de Oliveira e Dílson Machado Fernandes, que trabalhávamos na assessoria de imprensa do governo, convencemos o governador da época, o coronel João Carlos Marques Henriques, a nos deixar usar um tele-cine vindo por engano como câmera e lençóis pintados por Jussara Gotlieb como cenários - e esticar o horário da programação para mais de horas de programação local.
Marques Henriques, homem inteligente e amigo da comunicação, concordou. E fundamos a TV em Rondônia. A precaríssima TV Educativa forçou o governo federal abrir meses depois concorrência pública para TV comercial, que foi vencida pela Rede Amazônica de Televisão.
Da nossa aventura pioneira nasceu a TV Rondônia, na época repetidora da Rede Bandeirantes de Televisão. A primeira novela de TV assistida pelo povo de Porto Velho foi "Meu Pedacinho de Chão", da TV Bandeirantes. Comoveu tanto a cidade que virou nome de bairro,
Em 1976 o empresário Joaquim Pereira Rocha implanta o jornal "A Tribuna" que, ao contrário do que o senhor disse, não era impresso em máquina plana.
"A Tribuna" foi um divisor de águas na tecnologia da imprensa em Rondônia, foi o primeiro jornal impresso em ROTATIVA. Revolução tecnológica de igual magnitude somente ocorreria após o empresário Mário Calixto fundar "O Estadão do Norte" com a impressão em off set.
Embora o mais moderno da época, "A Tribuna" não foi, como o senhor disse, o primeiro jornal a circular em todos os municípios e vilas ao longo da BR-364. Esse feito faço questão de dizer é meu e da minha equipe de "A Palavra" - o primeiro jornal de Vila de Rondônia e da BR-364. Era distribuída até em lombo de burro.
Tínhamos correspondentes em todos os povoados que hoje são grandes cidades, como Cacoal, Pimenta Bueno, Vilhena. E também em Porto Velho. E até mesmo em Guajará Mirim.
Quando o senhor diz que o jornal "O Parceleiro" foi o. primeiro jornal sediado em um município do interior de Rondônia e com circulação nos principais cidades, mais vez esquece-se de "A Palavra" e do "Imparcial", de Guajará Mirim.
O senhor esqueceu de citar o aguerrido, desbocado, corajoso e freqüentemente empastelado "O Combate", de Inácio Mendes, o tablóide semanal que ousava encarar os militares da diatura.
Pior, caro professor, o senhor esqueceu um dos mais primordiais eventos da história da comunicação. O advento do telégrafo em Porto Velho..
Refiro-me ao telégrafo sem fio, ao potentíssimo transmissor da Estação Central da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em Porto Velho, que foi quem informou para o Rio de Janeiro - em tempo real - quando o extenuado tenente Cândido Rondon chegou a Porto Velho carregando os postes de seu telégrafo que ainda usava fio.

1 Comments:

Blogger JMOV said...

Sr Nelson.
Foi com grande satisfação que li um comentário seu num blog do qual sou administrador. Povoalamego.blogspot.com.
Muito obrigado pelo seu comentário, mesmo não sendo eu o autor dos poemas, fiquei muito orgulhoso, porque quando criei este blog, foi para dar voz a uma pequena aldeia do interior de Portugal, que viu partir uma grande parte dos seus filhos. Poucos foram os que emigraram, mesmo assim temos também nessa terra irmã alguns filhos desta terra.Todos nós gostamos muito da nossa terra, e como não queremos que seja esquecida, este foi o meio que achamos melhor para a levar até outras paragens. Mais uma vez muito obrigado pelo seu comentário.

1:38 PM  

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